No artigo passado vimos o princípio de simultaneadade. Vamos desenvolver este princípio e demonstra-lo matematicamente.
A Matemática por trás das Transformações de Lorentz
Revisando o experimento anterior (em Parte-2) vimos que t ≠ t' para os observadores em movimento. Portanto o ponto no gráfico acima que satisfaz t' = 0 é o ponto em que o sinal de luz foi emitido e chegou simultaneamente com o emitido da origem (ponto no espaço-tempo que é comum tanto para o referencial em movimento quanto para o referencial parado). Dado que L pode ser qualquer distância arbitrária, temos que o seguinte referencial em movimento se relaciona com o parado:
Vimos antes, que o referencial do observador em movimento é descrito pela transformação de Galileu onde x = x' + vt. Lembre também que a inclinação da linha de movimento é v. Portanto teu amigo ou você se movendo com velocidade v e olhando para dentro de tua nave não percebe que está se movendo. Tudo para teu ponto de vista dentro da tua nave está parado. Portanto t' é o tempo registrado pelo teu relógio assim como x' são as distâncias medidas por você (pelo ponto de vista do observador em movimento). O observador em movimento portanto percorre o eixo-t' que a equação x'=0 descreve.
Note que você está em movimento junto com tua nave. Você só poderá fazer medições com uma "trena" a partir deste referencial x'=0 e lembre-se que tua trena está acompanhando você e tem velocidade v. Este espaço definido pelas medições de tua trena é que define o referencial x'. Este referencial tem seu tempo passando de acordo com o teu relógio t'. Assim como os relógios de teus amigos observadores com velocidade v, todos testam t'=0 a partir de simultaniedade de sinais de luz.
Mas como definimos no conceito de simultaniedade, t'=0 define o ponto no referencial parado x-t que é simultaneo para o referencial x'-t'. Veja o gráfico:
Note que você está em movimento junto com tua nave. Você só poderá fazer medições com uma "trena" a partir deste referencial x'=0 e lembre-se que tua trena está acompanhando você e tem velocidade v. Este espaço definido pelas medições de tua trena é que define o referencial x'. Este referencial tem seu tempo passando de acordo com o teu relógio t'. Assim como os relógios de teus amigos observadores com velocidade v, todos testam t'=0 a partir de simultaniedade de sinais de luz.
Mas como definimos no conceito de simultaniedade, t'=0 define o ponto no referencial parado x-t que é simultaneo para o referencial x'-t'. Veja o gráfico:
O que nos resta a achar é o ponto onde se definiu que a emissão do sinal de luz (o vermelho do experimento anterior) foi zero (i.e. simultâneo com o sinal a t=0 emitido no referencial parado x-t).
Para conseguirmos definir o ponto de simultaniedade que define o eixo-t' temos que achar a equação de x= -t + b i.e. descobrir qual é o valor de b. Assim temos:
x=t
i.e. luz emitida da origem
x = -t + b
i.e. luz emitida do ponto simultâneo a origem de acordo com o observador em movimento
ou portanto, b = x + t
Primeiramente temos que achar o ponto onde o observador em movimento avistor os dois sinais de luz chegarem simultaneamente.

Na intercessão onde passa a linha x = -t + b também passa as seguintes linhas: x = vt + L e x=t
Portanto podemos descrever as equações em termos da distância arbitrária L. Assim temos,
se x= vt + L, em x=t temos,
t - vt = L
fatorando o termo comum t temos,
t (1-v) = L
portanto,
t = L/(1-v)
para x temos,
x = vx + L
x - vx = L
fatorando o termo comum x temos,
x(1-v) = L
portanto,
x = L/(1-v)
i.e. o ponto
faz parte da equação do sinal de luz vermelho (i.e. o que é simultâneo para o observador em movimento.) Assim podemos calcular o valor de b.


Portanto,
b = x + t
i.e. b = L/(1-v) + L/(1-v)
Definido a equação do sinal de luz onde vinda do ponto de simultaniedade, podemos calcular o ponto de onde essa luz (a vermelha do último experimento) veio. Tendo que a equação que descreve o raio de luz vermelho é
e que este raio proveio do teu amigo que se movimenta por x = vt + 2L, temos que o ponto exato onde esse raio de luz veio em temos de L e em termos do referencial parado temos:


e substituindo de volta este termo podemos calcular x :

Portanto sabemos qual ponto em relação ao referencial parado (espaço x-t) foi-se observado pelo observador do meio que t'=0 (i.e. o tempo respectivo a ele foi equivalente a zero).
Concluimos então que referente ao referencial x-t o ponto t'=0 do experimento foi:
O que procuramos no entanto é a linha que define, para qualquer observador no referencial em movimento (i.e. o que está com velocidade v em relação ao referencial parado) , t'=0 ou seja o eixo-x' em termos do eixo-x. Para isso usaremos que uma linha é definida como forma y=mx+b definida aqui. Para o nosso gráfico temos x = vt + b e o ponto acima deve satisfazer essa equação tal que:

Portanto o eixo-x' é descrito tanto pelo referencial em movimento pela linha t'=0 quanto pelo referencial parado pela linha x=t/v ou mais simplesmente t=vx.

Agora temos o referencial em movimento definido por linhas que ao se aproximarem da velocidade da luz (i.e. v —› c ou v —›1) convergem para linha x=t ou x'=t' onde c=1 i.e. linha de inclinação 1. Assim podemos ver como ao visualizar v se aproximar de c o eixo-t do referencial em movimento que representa todos os pontos de distância zero da origem x' se aproxima proporcionalmente pelo fator v (i.e. representado no referencial parado pela linha x=vt). Assim como o eixo que representa todos os pontos simultâneos no referencial em movimento (i.e. t'=0 ou eixo-x') se aproxima por um fator inversamente proporcional a v (i.e. representado no referencial parado pela linha x=t/v).
Isso demonstra como o referencial nunca pode alcançar a velocidade da luz, pois alcança-la representaria parar no tempo e encolher ao infinitesimo o tamanho das medição ao longo de x'.
Daí é que vem as transformações de Lorentz! Assim como transformamos de um referencial para outro pelas transformações de Galileo (i.e. x' = x + vt) para velocidades pequenas, podemos dentro do referencial que converge ao aumentar para perto da velocidade da luz fazer transformações parecidas com as de Galileo porém com um fator corretivo: o fator de Lorentz que iremos demostrar.
Obs: Neste artigo, iremos nos referir a um ponto ou evento como um local no espaço (ao longo do eixo-x ou x’) e no tempo (ao longo do eixo-t ou t’). Esse ponto pode ser expresso tanto em termos do referencial parado quanto em termos do que está em movimento. Assim dado as coordenadas em um referencial, podemos calcular, através de equações de transformação, as coordenadas do evento em relação a outro referencial. Do mesmo modo que fazemos pelas transformações de Galileo quanto pelas que iremos definir para referenciais em altas velocidades perto de c. i.e. as Transformações de Lorentz.
Assim definimos um ponto no espaço-tempo, i.e. um evento, em termos dos respectivos eixos do referencial em movimento:
Assim definimos:
Eixo-t’ - o eixo que para o observador em movimento x’=0. i.e. Para
qualquer valor de t’ (que é o tempo contado pelo observador em movimento) as
medições de distância a partir desse observador é zero. Este eixo é visualizado
pelo referencial parado pela função x=vt (onde v é a velocidade em que x’
sempre será zero, passando pelo tempo e definindo todos pontos no tempo em que
a distância do observador permanece zero).
Eixo-x’ - o eixo do referencial em movimento em que o tempo t’ se inicia e
é a linha que, para o observador em movimento, define todos os pontos ao longo
do eixo-x’ que são simultâneos quando t’=0. Este eixo é visualizado pelo
referencial parado pela função que definimos anteriormente: a função onde
x = t/v.
Definindo que c=1, vimos anteriormente que o quando t'=0, x=t/v. No entanto podemos voltar nosso pensamento lá no
artigo Parte-1 e rever esse conceito. Vamos supor que o eixo-t define o
referencial parado e tem unidades de segundo. Portanto em nosso gráfico teremos
as unidades de x medidas em seg. luz (i.e. 1 seg.luz = 300.000 Km). Assim teremos um
gráfico onde as velocidades são medidas corretamente em seg.luz/seg. e assim a luz tem velocidade de 1 seg.luz/seg. Correto! Mas como podemos ter uma função onde
x=t/v? As unidades não são coerentes. Veja:
Se x = t/v
e x é em seg.luz (i.e. unidade de distância)
t em segundos (i.e. unidade de tempo)
v deve ser em seg.luz/seg (i.e. unidade de velocidade) mas
a função x=t/v não obedece isso. Portanto deve haver uma correção a esta função que a
torne coerente em unidades de distância. Esta função é:
Corrigindo para coerência em unidades temos que multiplicar pelo quadrado da velocidade da luz i.e. c2
Tal que x = (t/v) c2
Note que esta função que define o eixo-x' pode ser escrita em termos de x.
i.e. t = x(v/c2) e não apenas t = vx
Desta forma fica a análise dimensional fica coerente e também faz com que t = t' quando v é muito menor que c, principalmente muito menor que c2 pois o termo (v/c2) fica tão pequeno que pode ser considerado zero. Assim faz que a transformação de coordenadas entre uma coordenada do referencial parado para o em movimento seja t' = t - x(v/c2) descrita no gráfico acima, seja apenas t' = t.
i.e. x(v/c2) –› 0.
e
,




Nota: Em relatividade ƒ(v) é também chamado de Fator de Lorentz
(letra grega gama).
i.e. x(v/c2) –› 0.
O próximo passo para definirmos
transformações entre coordenadas de referenciais parados para coordenadas de
referenciais em movimento é definir as propriedades dessas transformações:
Transformações de coordenadas
devem ser recíprocas. Assim como nas de Galileo,
x = x’ + vt (visto pelo observador parado)
t = t'
é o mesmo que sua
recíproca (exeto com sinal contrário pois o outro vê o movimento contrário)
x’ = x – vt
t' = t
Para que em todos
referenciais (inclusive os de velocidades próximas as da luz) as transformações
de coordenadas funcionem, deve haver uma função que multiplicada a
transformação de Galileo, poderemos obter reciprocidade. Essa proporcionalidade pode ser uma função da velocidade para que se possa tanto conservarmos o princípio de reciprocidade quanto o princípio de que a velocidade da luz é invariável em qualquer referencial (os em movimento ou não).
Leia mais sobre as duas hipóteses fundamentais usadas por Einstein para derivar as transformações de Lorentz em seu trabalho na Relatividade Restrita.
Podemos descrever esta transformação utilizando funções arbitrárias de proporcionalidade a velocidade do referencial x’-t’ no espaço-tempo x-t que aplicadas a transformação de Galileo e através dos princípios da relatividade poderemos calcular.
Assim temos:
Onde ƒ(v) e g(v) são funções de proporcionalidade tal que se conserve o princípio de reciprocidade entre referenciais e o da invariância da velocidade da luz para qualquer referencial.
Vamos partir do princípio invariância da velocidade da luz. Desta forma iremos testar os pontos em x=ct. Assim temos:
Se a velocidade da luz é invariável em qualquer referencial, temos então que x' = ct' assim como x = ct. Isso implica que se


g(v) = ƒ(v)
e se as equações devem ser recíprocas nos referenciais podemos supor que as equações conservam essa propriedade tal que a partir de

e ƒ(v) deverá corresponder a uma função da velocidade tal que reciprocamente

subtraindo as funções de espaço temos:


Nota: Em relatividade ƒ(v) é também chamado de Fator de Lorentz

Assim podemos transformar coordenadas de um evento (ponto no espaço-tempo) de um referencial para outro dentro dos princípios da relatividade de acordo com as transformações de Lorentz abaixo: